segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Terás Paciência Com a Coleguinha Que Acabou de Conhecer o Feminismo


Ser feminista cansa. Eu sei disso! E é fato que pessoas cansadas têm menos paciência. Mas também é fato que discursos agressivos costumam originar, bem... reações agressivas. Vejam, o que eu quero propor não é passar a mão na cabeça de homem machista, mulher racista e outros do tipo, eu quero mesmo é que a gente vá com calma com outra mulheres que acabaram de entrar no feminismo.
Foto de Rubia Luiza - Belo Horizonte

Você estudou em um colégio particular ou da rede federal que estimulava o debate político desde cedo? Sorte sua! Mas sabe que essa não é a realidade de 99,9% das outras mulheres, né? Sabe também que muitas mulheres só conhecem o feminismo – pelo menos com esse nome – na universidade (sendo que muitas dessas mulheres são a primeira geração da família a ter acesso ao ensino superior)? E as que nunca estiveram nem estarão na universidade e põem qualquer uma de nós, feministas universitárias, no chinelo, quando o assunto é resistência? Você vai mesmo mandar essas mulheres lerem Simone de Beauvoir? Academicismo é feio, muito feio!

Sabe o patriarcado? Então, ele é um dos alicerces dessa nossa necessidade de mostrar a outras mulheres o quanto sabemos de feminismo, o quanto elas estão reproduzindo machismo e como elas estão sendo oprimidas e não fazem nada. O patriarcado? SIM, o patriarcado! Aquele mesmo que nos ensinou a competir com as coleguinhas e a ser “diferentes” das outras mulheres. Não fica óbvio que nossa impaciência e hostilidade com ~~novatas é só mais uma triste e improdutiva tentativa de competir com outras mulheres e, consequentemente, uma reprodução de machismo?

Mulheres têm histórias de vidas diferentes. Sofrem opressões diferentes além do machismo. Precisamos ter isso em mente ao apontar o dedo na cara de quem faz comentários que muitas de nós já fizemos. O meu feminismo amadureceu muito com o tempo. Eu já bati palma para homem “feminista” e já briguei com mina porque estava defendendo homens no feminismo! Quão contraditório isso é? Quão arrogante?

Precisamos falar sobre paciência e sobre didática. Com urgência.


Júlia Quinan, estudante de jornalismo
e integrante do Coletivo de Mulheres da UFRJ